Uma perspetiva feminista nos desenhos animados...
umarmadeira
ARTIGO DE CARINA TEIXEIRA
Para este meu segundo artigo, trago-vos um tema que me é muito especial e, com certeza, também para muitos/as de vós: falar sobre a perspetiva feminista nos desenhos animados. Após ter feito alguma pesquisa sobre variados filmes, que têm na sua essência perspetivas feministas, decidi escrever sobre Mulan.
A primeira vez que vi o filme Mulan tinha eu os meus 9 anos e, obviamente, que me encantei pela história, especialmente porque existe uma constante busca de identidade e um querer, também ele constante, de salvar a vida do seu pai. Até hoje não se sabe se Mulan foi real ou apenas uma lenda chinesa, mas Mulan, ainda hoje, navega pelos séculos e promove reflexões sobre os verdadeiros valores da vida.
O filme Mulan representa e aponta diversas situações que, nós mulheres, ainda continuamos a enfrentar. O primeiro caso é a “ditadura da beleza”. Para agradar o seu futuro marido, Mulan teve, contra a sua vontade, de colocar batom, sombra, lápis, penteados, vestidos com faixas apertadas para afinar a silhueta e tudo o que fosse necessário para que se tornasse numa boneca.
Após ter sido maltratada, de ter vergonha de si própria por não se encaixar nos padrões da realeza, Mulan faz uma auto-reflexão para perceber o que se passava de errado com ela. É neste momento que se inicia o processo de empoderamento de Mulan. É uma cena de libertação, em que a futura heroína da China representa todas as mulheres que estão cansadas de tentar ser o modelo perfeito para a sociedade.
Mulan, sabendo que seu pai tinha sido convocado para a guerra mesmo estando doente, ela vai contra todos os padrões da sociedade e não deixa de agir por causa do conservadorismo. Ela livra-se do tal padrão de beleza, corta o cabelo e veste a armadura do seu pai, mesmo sabendo que poderia ser punida de morte se alguém a descobrisse. Estando no meio de um exército masculino, Mulan torna-se a melhor guerreira e salva o exército chinês, sendo descoberta de seguida.
Embora muitos reconheçam que o facto de ela ser mulher não impedir, em nada, o seu desempenho no exército, o conselheiro imperial, conservador até à ponta dos cabelos, não perdoa e é violento. Aqui, temos um paralelo com os conservadoristas do século XXI, que se agarram às suas crenças e impedem o avanço dos direitos sociais.
Contudo, mesmo tendo sido abandonada nas montanhas, Mulan descobre que os inimigos do Império sobreviveram e tenta alertar os demais, mas ninguém acredita nela, por simplesmente ser mulher. Mas isso não a impede de lutar pelos seus objetivos e, conseguindo uma maneira das pessoas a ouvirem, os seus amigos ajudam-na a seguir com o seu plano e vestem-se de mulheres, tornando-se heróis junto com ela.
Mulan é finalmente reconhecida pelos seus atos, referindo o imperador que ela trouxe honra à sua família e ao seu país e, nesse momento, verificamos que o conservadorismo cai de joelhos perante o feminismo, pois todos estavam ajoelhados perante uma mulher (o que era impensável na altura).
Toda a mulher, aliás, todo o ser humano deveria ter um pouco de Mulan. A luta é árdua, mas lembremos: “A flor que desabrocha na adversidade é a mais rara e bela de todas” (Mulan).