Cromo-determinismo
umarmadeira
ARTIGO DE CLÁUDIO PESTANA
Segundo a nova ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos do Brasil, Damares Alves, iniciou-se uma nova era naquele país de língua oficial portuguesa, uma era em que o menino vestirá azul e a menina vestirá cor-de-rosa. Este cromo-determinismo (escusam de procurar no dicionário) à brasileira é sinónimo do iluminismo democrático em que tendencialmente os vencedores eleitorais se julgam donos da verdade e representantes de Deus na terra e vai daí toca a desbobinar ideias mirificas e incutir os seus respectivos ideais nos seus países condenando os homens, mulheres e crianças às loucuras doentias com que diariamente vivem. Da minha parte, no caso de lá viver, já estaria a fazer contas à vida. Isto porque tenho três camisas cor-de-rosa das quais não gostaria de me desfazer nem ter de as tingir de azul.
Ironias à parte, ainda me lembro de ouvir o Maduro dizer que falou com um passarinho e este lhe disse que era a reencarnação de Hugo Chávez e eu, sendo inocente como sou, acredito cegamente que um povo deve ser liderado por gente desta índole, gente que fala com pássaros, gente que retrocede os avanços na igualdade de género e gente que rejeita as evidências.
Afinal de contas, sejamos pragmáticos, Deus enviou os dez mandamentos pela mão de Moisés e não pela mão de Darwin e isto só me diz que eu devo confiar cegamente nos enviados de Deus e não nos errantes deste mundo cruel e mortal.
Ora, eu sei que Bolsonaro foi enviado dos céus para melhorar o estilo de vida do Brasil e impor a ordem “em nome da moral e dos bons costumes” mas determinar uma criança a uma cor por causa do seu género é retroceder cem anos de avanços e conquistas feministas.
Passámos décadas a tentar erradicar o preconceito em relação ao género para agora nos cair dos céus esta gente que não se sabe bem se já nasceram assim ou se foram modificados geneticamente para se tornarem numa espécie de antimatéria humanística contrariando o sentido da maré. O menino não tem que vestir azul nem tem que ser ensinado a ser bruto como um homo sapiens; a menina não tem que vestir rosa nem tem que ser submetida à vontade do menino.
Como em todo o lado há sempre um saudosista que se recorda dos “bons” velhos tempos em que o género era um determinismo o que só nos deve relembrar que a liberdade nunca é uma garantia mas sim um motivo para continuar a lutar.
Com um eminente triunfo dos porcos à escala mundial protagonizado por Bolsonaros, Damares, Trumps, Maduros, Machados, Le Pens entre outros resta-me esperar que tudo tenha um fim e concluir o meu artigo da mesma forma que Dostoiévski concluiu o seu “Jogador”: “Amanhã, amanhã acabará tudo!”