Da liberdade de escrever...
umarmadeira
ARTIGO DE VALENTINA SILVA FERREIRA
Abril, mês da liberdade. Ontem lancei um livro erótico. O ano passado, por altura do Dia das Mulheres, a Joana apresentou o seu primeiro livro de poesia. A Guida escreve mensalmente para o Diário, fora tudo o que já publicou. A Conceição também escreve desde há muito. Elas, assim como a Assunção, a Cássia e a Carina exprimem-se neste blog. Isto só é possível porque Abril, naquele 25 de cravos e esperanças, permitiu que as mulheres se expressassem livremente em Portugal.
A literatura escrita por mulheres não é moda; tampouco as opiniões escritas por elas. O que se destaca agora, e cada vez mais, é uma adaptação do mercado editorial, cultural e político à voz das mulheres, sendo que até há poucas décadas eram elas quem se encaixavam, secretamente, muitas vezes escondidas sob pseudónimos masculinos, a um mercado feito por e dirigido a homens.
O relato masculino sempre foi o favorito. Repare-se que as grandes figuras femininas da literatura, aquelas personagens marcantes, foram descritas por homens. Uma mulher que escreve sobre outra mulher terá, certamente, outra complexidade.
Sylvia Plath, Judith Shakspeare e Virgínia Stephen tentaram reivindicar igualdade através dos seus textos. As três suicidaram-se porque a pressão era muita. Por cá, em altura de repressão, Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa decidiram escrever um livro juntas (“As Novas Cartas Portuguesas”), desafiando os papéis sociais e sexuais esperados das mulheres. Foram censuradas, perseguidas, interrogadas.
A literatura escrita por mulheres é fundamental: mais não seja por sermos mais de metade da população, por termos, como qualquer ser humano, ideias e ideais, sentimentos e opiniões, momentos e movimentos. Conquistamos, aos poucos, o nosso espaço merecido após séculos de opressão, de barreiras, de nãos. Queremos que a interação do feminismo com as artes faça com que a história deixe de ser escrita apenas por homens. Queremos participar. Queremos dar a cara e a voz. Queremos assinar com o nosso nome: Valentina, Joana, Guida, Assunção, Cássia, Carina e Conceição.
Abril trouxe-nos isto: esta gigante pertença a um mundo que é cada vez mais nosso, mais feito das nossas palavras – palavras diferentes porque somos todas mulheres diferentes, porque nos expressamos de forma diferente. A riqueza desta diversidade é o que se impõe agora. Escrevamos mais. Com gritos, se preciso for. Com fúria. Com sede. Mas escrevamos. Ninguém mais nos cala. Obrigada, Abril.