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Feminismos é Igualdade

26
Out20

É possível existir escola sem cidadania?


umarmadeira

ARTIGO DE MARGARIDA PACHECO

ALFABETIZAÇÃO

Nas últimas semanas muito se tem falado sobre o papel da escola em relação à aprendizagem da cidadania das crianças e jovens. Enquanto técnica educativa é impensável, para mim, pensar na escola sem pensar em cidadania. A cidadania está presente no currículo, nas relações dos/as docentes com os/as alunos/as, nas relações entre pares que as crianças e jovens desenvolvem e no respeito pelos direitos e deveres que os/as mesmos/as têm no espaço escolar. Pensar que não é função da escola educar para uma cidadania ativa é tão errado como dizer que a única função da escola é a aprendizagem das disciplinas do currículo escolar. 

Todos os problemas sociais existentes estão presentes no dia-a-dia da escola, uma vez que esta não é um contexto fechado. A violência doméstica, violência no namoro e os femicídios continuam a ser, em Portugal, problemas sociais e de saúde pública graves. A família continua a ser o contexto mais violento para crianças e jovens. Portugal é, ainda, um país em que o racismo e a desigualdade de género estão presentes no âmbito pessoal e profissional. A sociedade continua a perpetuar comportamentos homofóbicos e a considerar a sexualidade como um tema tabu. A violência entre pares, o assédio sexual, a perseguição, a violência na internet são formas de violência que os/as jovens continuam a legitimar e perpetuar. Fingir que não existem problemas sociais estruturais na nossa sociedade é promover uma cultura não igualitária, opressiva e violenta. 

Falarmos da importância da cidadania no ano de 2020 em que enfrentamos uma pandemia mundial torna-se, até, irônico. Neste período de crise, em que milhares de pessoas estão a morrer e outras milhares a perderem o seu emprego, em que as classes sociais menos desfavorecidas estão a sofrer consequências mais profundas, em que para muitas pessoas o estar em casa significa permanecer no sítio mais violento, falar sobre cidadania e sustentabilidade nunca foi tão importante. Mais do que nunca, é necessário que as crianças e jovens desenvolvam um pensamento reflexivo e crítico sobre o mundo que os/as rodeia. 

A cidadania é transversal a todo o currículo escolar, mas é essencial existir um espaço e tempo para que os/as alunos/as possam refletir e questionar sobre as problemáticas sociais. O desenvolvimento de um pensamento crítico ajudará a tornarem-se cidadãos e cidadãs ativos/as conscientes para o desenvolvimento de um mundo mais sustentável e de uma sociedade menos violenta e mais igualitária.

Não existe escola sem cidadania e ainda bem! A escola pública é um dos pilares da nossa sociedade democrática. E nós o que faríamos se a escola não formasse cidadãos e cidadãs?

bannerMargarida

 

19
Out20

Sobre o Medo


umarmadeira

ARTIGO DE LUÍSA PAIXÃO

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E de repente o medo chegou, mas já não veio sozinho.

Como habitualmente, já sem forças para lutar,

deixou-se escoltar pelos seus companheiros de viagem habituais:

o egocentrismo e a discriminação.

 

Já todos sabemos, de tanto ouvir dizer, que vivemos tempos difíceis e que a tendência é para piorar.  Esta tem sido uma dissertação escrita a diversas mãos, com espaço permanentemente reservado na Comunicação Social e para a qual não têm faltado os indispensáveis argumentos, provas e exemplos, sem faltar a necessária validação da autoridade “científica”.

A narrativa que tem vindo a ocupar o espaço público de comunicação é de tal modo que nos pode levar a acreditar que a expressão tão popular “éramos felizes e não sabíamos” se aplicava a toda a população, no passado recente que a pandemia COVID-19 veio interromper. Mas, não esqueçamos que, para um grande número de cidadãos e cidadãs, a situação em que viviam já era marcada por enormes dificuldades, tornadas insustentáveis com esta pandemia. Nunca é demais lembrar que a pobreza, a violência e o abandono matam mais do que qualquer vírus e estão cada vez mais escondidos, ofuscados pelas contingências dos tempos atuais, em que, devagarinho o medo se instala.

Primeiro o medo do vírus, anónimo, irreconhecível - um inimigo que nos rouba o futuro e aqueles que amamos. Com ele, as prioridades mudam e os círculos fecham-se, ameaçando grupos que pela sua fragilidade e invisibilidade ficam fora de qualquer círculo, presos à sua sorte.

Depois, o vírus vai deixando o seu anonimato e ouvem-se os arautos, que começam a delinear as suas faces, os seus perfis. Não as situações, as dificuldades e o desconhecimento, afinal, isso não serve às audiências.

Finalmente, esse medo vago e impreciso começa a ter forma. É o estrangeiro, a viajante, o vizinho, a funcionária. Assim, começa a discriminação e o egocentrismo, companheiros do medo que o desumanizam. São estes os sentimentos que urge destruir e substituir por uma verdadeira responsabilização cívica, com a certeza de que são, sobretudo, as situações que nos colocam a nós e aos outros em risco.

Sendo importante reconhecer a importância de todas as medidas que visem a proteção da saúde de todas e de todos, daqui não se pode partir para a estratégia generalizada do medo. Devemos sim assumir a nossa responsabilidade cívica de não deixar ninguém para trás, pois não podemos correr o risco de perder a nossa a humanidade.

Aos profissionais de saúde cabe a hercúlea tarefa de salvar as vidas, mas salvar a fé na humanidade é um trabalho de todas e de todos nós.

bannerLuisanovo

12
Out20

O Sentido da Vida


umarmadeira

ARTIGO DE CARINA JASMINS

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A vida tem um sentido diferente para cada um/a de nós e, de facto, o mais importante é dar-lhe um sentido, que é único e pessoal. Quando não encontramos um sentido para a vida, perdemos a alegria e o entusiasmo, a vida deixa de ter cor e vamos nos perdendo de nós próprias/os. Por isso, é tão importante procurar um significado para que, de facto, tudo faça mais sentido.

Para podermos dar-lhe um sentido, é preciso refletir na finitude da vida. Um dia, a vida que conhecemos acabará e, no final, olhando para trás, vendo o caminho percorrido sentir que, apesar dos desafios, das dificuldades, de sonhos realizados, de sonhos adiados, nós realmente demos o nosso melhor, cometendo erros, aprendendo com eles e, sobretudo, tentando não repeti-los.

Ao pensar que um dia a nossa vida terminará, sentimos uma necessidade de aproveitá-la da melhor maneira, tentando deixar para trás, a cada dia, maneiras de pensar que já não funcionam mais e já não têm a ver connosco; tentando, a cada dia, fazer melhor, aprendendo aquilo que a vida nos ensina, mesmo que os desafios sejam difíceis. Acredito que algumas situações na vida são necessárias para o nosso crescimento interior, para ganharmos mais maturidade e consciência, mesmo que nos custe e seja difícil. Nestes casos, a melhor atitude é a de tentar aprender com a maior professora, que é a vida, sem revolta porque isso só irá nos atrasar e retirar forças.

Nesta reflexão, vamos muitas vezes nos apercebendo que todas/os estamos no mesmo barco, neste Planeta, que nos transporta no vazio e na escuridão do Universo. Fazemos parte de um Todo, interconectado, dependemos umas/uns das/os outras/os para que o futuro seja melhor. Se entendermos que cada um/a de nós, na sua diferença, pode acrescentar algo de único ao mundo, iremos olhar menos para as diferenças e olhar para essa questão com os olhos de que esta diferença é algo enriquecedor para o Mundo. Mesmo que até não concordemos, aquela pessoa tem o direito de ver o mundo à sua maneira e se algo é realmente negativo ao nosso olhar, permite-nos ver que aquele é um caminho que não queremos seguir.  Sobretudo, iremos buscar cada vez mais sermos nós próprias/os e trazer essa unicidade que cada um/a traz dentro de si para o Mundo.

Vamos reparando que as diferenças no nosso exterior são apenas diferenças e não têm nada de mal, somos todas/os diferentes no nosso exterior e ainda bem, porque o Mundo seria bastante monótono e aborrecido se todas/os fôssemos iguais, com o mesmo formato e aspeto.

Tudo seria mais leve e tranquilo se conseguíssemos olhar para a vida desta maneira, não haveria tanta discriminação, racismo, xenofobia, o gozar da/o outra/o, afinal de contas somos todas/os feitas/os da mesma matéria, ossos, cartilagens, músculos e muito mais, o nosso corpo físico é matéria, semelhante a todas/os, temos o mesmo início e o mesmo fim. Olhar com mais maturidade para a vida permite descartar todos estes conceitos que deveriam fazer parte do passado da Humanidade, é algo tão atrasado que já não deveria estar presente na nossa sociedade.

A vida passa rápido e perdemos tanto tempo com pormenores e com coisas que não valem a pena que, quando olhamos para trás, já passou muito tempo, mas há sempre oportunidade de fazer diferente, para melhor. Não deixemos passar tempo demais para refletirmos. Aceitarmos a nós próprias/os e às/aos outras/os como são é um caminho longo, às vezes de uma vida inteira, mas vale a pena, porque tudo se vai tornando mais pacífico dentro de nós.

Quando um dia partirmos, o que queremos deixar de nosso no Mundo?

Poderá parecer, para algumas/alguns, uma pergunta algo mórbida, mas é algo que é uma realidade para todas/os. O nosso tempo é finito e ajuda-nos a relativizar tanta coisa que damos tanta importância e não vale tanto assim, perdemos tempo precioso. Muitas vezes, faço essa pergunta a mim própria, reflito sobre isso e a resposta é: quero deixar amor, boas lembranças no coração de quem ficar. Um dia, chegará a minha hora e nesse momento quero sentir que deixei algo de bom e que, por mais pequenina que tenha sido a minha participação no jogo da vida, que contribui, nem que seja uma milésima parte para tornar o Mundo um pouco melhor. Quero ir tranquila e em paz com a minha consciência.

bannerCarinaJ

 

05
Out20

BASTA!


umarmadeira

ARTIGO DE MADALENA SACRAMENTO NUNES

Veio a público que um professor de Direito Penal, Francisco Aguilar, que leciona conteúdos de mestrado na Faculdade de Direito de Lisboa, defende que as mulheres são “pessoas desonestas, espertas e canalhas”. Num artigo seu, publicado na revista de Direito Civil da mesma faculdade, pasme-se!!!, escreveu que "Mesmo a resistência a leste começará a cair, se o mais criminoso regime da história - o feminismo político - não for derrubado e os seus responsáveis, as feministas, não forem julgados pelos seus crimes contra a ideia de Deus e do direito como justiça da espécie” (JN de 30 de setembro). Para além de muitas outras pérolas, compara o feminismo ao nazismo, fala na “miopia moral da fêmea” e no “assalto feminista ao Estado”. De acordo com a sua linha de pensamento, o sexo masculino é “biologicamente privilegiado por Deus” e as mulheres têm-lhe um ódio genético.

De realçar que uma das disciplinas onde leciona conceitos deste género é de caráter obrigatório.

Mafalda_Basta

Sabemos que a Constituição da República Portuguesa (CRP), no seu artigo 13º, afirma “Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei”. Sabemos igualmente que a CRP tem de ser cumprida por todas as entidades e em todas as esferas. Contudo, nesta escola pública, de Direito, parece que este documento fundamental da nossa democracia não é para ser levado a sério dentro das suas paredes. Talvez assim se comecem a perceber muitas decisões “estranhas” que saem das sentenças de tribunais portugueses…

Dias depois de se conhecer este caso, veio a público que o Ministério da Defesa pretendia promover a implementação de uma linguagem inclusiva nos diferentes ramos das Forças Armadas Portuguesas, contribuindo para a eliminação de perceções estereotipadas. Nessa diretiva sugeriam-se coisas tão básicas e simples como usar a expressão “a pessoa interessada” em vez de “o interessado”; “a classe política” em vez de “os políticos”; “a coordenação”, em vez de “o coordenador”; “direitos humanos”, em vez de “direitos do Homem”, etc. Fiquei muito orgulhosa desta medida política. Contudo, dias depois, li no Expresso que “o presidente do Conselho Nacional da Associação de Oficiais das Forças Armadas arrasou a diretiva, que descreveu como “baboseira”, e garantiu tratar-se de uma “provocação” aos militares, admitindo ainda uma “manifestação ruidosa”. Veio logo o Ministro da Defesa a terreiro, anulando a referida diretiva, alegando que era só um documento de trabalho e que não tinha sido validado superiormente…

Sabemos que quem sempre foi privilegiado, quando se sente limitado naquilo que considera como seus direitos intocáveis, vai sentir a igualdade como uma forma de opressão. É isso que Francisco Aguilar e muitos oficiais das Forças Armadas estão a sentir. E estrebucham.

Por isso é tão importante que cada um e cada uma de nós denuncie e não silencie a injustiça, a desigualdade, o reacionarismo. É preciso levantar a voz, defender sem medo os valores da igualdade, para construirmos um mundo mais justo e mais livre, onde as pessoas possam viver sem violência e com respeito.

Agradeço a todas as pessoas que sempre usaram os meios ao seu alcance para fazerem essa sensibilização e defenderem as suas ideias. Agradeço à juíza do Supremo Tribunal dos Estados Unidos da América, Ruth Bader Ginsburg, que morreu aos 87 anos no passado dia 18 de setembro de 2020. Foi uma lutadora e defensora dos Direitos das Mulheres. Foi uma feminista. Nunca desistiu, nem se calou perante a desigualdade. Uma mulher notável a quem todos e todas nós temos de agradecer o empenho e a resiliência.

Agradeço também ao Quino, autor da contestária Mafalda, que faleceu também em setembro deste ano, no dia 30, com 88 anos. Com muito humor, inteligência e educação este homem usou o seu talento para alertar para todas estas questões tão atuais.

Tal como a Mafalda, hoje apetece-me gritar “BASTA!”

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