Só com Mudança de mentalidades é possível conciliar a vida profissional, familiar e pessoal!
umarmadeira
ARTIGO DE ASSUNÇÃO BACANHIM
A já longa situação Pandémica de COVID19, que se abateu no mundo e que nos afectou a todas/os, mas que hoje, felizmente, já está a caminhar para a sua quase normalidade, mas temos de continuar com alguns cuidados, mesmo assim, por mais algum tempo, e passados que são quase dois anos, tem trazido ao de cima algumas reivindicações que se encontravam adormecidos tais como: os horários de trabalho e a conciliação da vida familiar e pessoal. Embora sejam uma questão crucial das sociedades actuais com reflexos a vários níveis e em múltiplas dimensões da vida das/os trabalhadores, desde a questão da demografia e os problemas decorrentes da baixa natalidade para a sustentabilidade da economia e do sistema de protecção social, aos problemas da igualdade entre mulheres e homens no trabalho, na família e na sociedade e os estereótipos de género que continuam a atribuir o papel de principal cuidadora, limitando ou menorizando o seu papel social e profissional enquanto mulher.
A taxa de empregabilidade da mulher é grande, mas apesar de haver sinais positivos sobre a participação dos homens ao nível da partilha de responsabilidades na vida familiar, existe uma grande distância entre a partilha equilibrada de responsabilidades e as realidades quotidianas. São as Mulheres que mais dificuldades sentem na conciliação do trabalho com a vida familiar e pessoal. Algumas veem-se forçadas a suspender as suas carreiras profissionais para cuidar dos/as filhos/as e não é por acaso que a maioria das/os cuidadoras/es informais são mulheres, abdicam a título temporário ou definitivo do trabalho remunerado para prestar assistência a cônjuge, pais, filhos ou outros familiares em condição de fragilidade ou de dependência. E são as Mulheres que mais recorrem ao apoio extraordinário à família, o que torna mais claro as assimetrias que continua a marcar a prestação de cuidados no seio familiar.
Neste contexto, os efeitos causados pela pandemia e o teletrabalho para um grande número de mulheres, aprofundaram ainda mais as dificuldades já existentes com a conciliação entre trabalho e vida familiar e profissional.
Na prática, o prolongamento generalizado e a constante irregularidade dos horários e tempos de trabalho são claramente incompatíveis com a necessidade de conciliar diariamente a vida profissional com a vida familiar e pessoal, não favorecem a efectivação do direito ao lazer e à cultura e, muitas vezes, têm repercussões negativas na saúde dos/as trabalhadoras/es.
Gostava de dizer que, apesar dos significativos progressos registados, a verdade é que a sociedade parte ainda do pressuposto que cabe à mulher assumir a quota principal das responsabilidades da família, que sejam as mulheres a gozar maioritariamente todas as licenças, faltas e dispensas relacionadas com o apoio à família, enquanto relativamente aos homens, tais práticas continuam a ser mal vistas e mal aceites.
Por outro lado, assiste-se a uma contínua degradação dos serviços públicos, sendo uma fonte de preocupação para as famílias que acaba por afectar as questões da conciliação. Porque a conciliação da vida profissional e familiar é um direito fundamental de quem trabalha e que as entidades empregadoras têm o dever de respeitar e facilitar, porque é necessário identificar as necessidades das mulheres e homens e das suas famílias e dar-lhes uma resposta urgente e cabal e não é isso o que se passa, infelizmente.
A dificuldade em conciliar as diferentes esferas da vida é uma realidade quotidiana que afecta e condiciona diariamente a vida de quem trabalha e das suas famílias, complicando o dia-a-dia, e provocando a destabilização das relações entre as pessoas, perturbando a educação e o desenvolvimento harmonioso das crianças e jovens, distorcendo as vivencias familiares e sociais , fazendo crescer fenómenos como o stress, depressão, ansiedade, burnout e a falta de motivação. Estes são cada vez mais relatados por um significativo número de trabalhadoras/os face à enorme pressão para responder às exigências do ambiente de trabalho moderno e à actual situação pandémica. Tal ocasionou repercussões, não só na vida profissional como também na vida pessoal, familiar e social.
Por isso, sem discutir-se o tempo de trabalho e a organização do tempo de trabalho e sem se procurar um justo equilíbrio entre tempos de trabalho e tempos de não trabalho, não se pode discutir a conciliação entre as várias esferas da vida das/os trabalhadoras/es.
Enquanto as leis que se aprovam não tiverem aplicação à vida concreta das famílias e a conciliação for vista pelo prisma do interesse das empresas e não for reconduzida ao plano das necessidades e interesses das pessoas e das famílias, também não é possível discutir e, muito menos, concretizar qualquer tipo de conciliação entre a vida profissional, familiar e pessoal, do meu ponto de vista. É preciso combater a instabilidade e a precariedade dos vínculos laborais, dando vínculo de trabalho efectivo que garanta estabilidade a quem trabalha. É preciso adequar ao exercício das responsabilidades familiares o cumprimento das normas laborais de protecção das mães e dos pais trabalhadores. Há que investir e melhorar os serviços públicos nas áreas sociais, da saúde, dos transportes e da habitação, a fim de proporcionar a quem vive do seu salário e às suas famílias maiores facilidades de conciliação e das suas responsabilidades familiares com a sua vida profissional.