Estar no lado certo não é fácil
umarmadeira
ARTIGO DE VALENTINA SILVA FERREIRA
Não pensem que ser ativista é glamoroso. Pode, até, ser moda mas, como qualquer moda, quem não o é por convicção, não sentirá, a longo prazo, que o ativismo incomoda. Ser ativista não é fácil. As pessoas afastam-se. As pessoas rotulam. As pessoas falam pelas costas e dificultam um trabalho que é urgente. De repente, quando dás por ti, perdeste (supostos/as) amigos/as, ganhaste outra mão cheia de inimigos/as. Dizia-me uma ativista que é como se tivesses lepra. Tu abraças as tuas convicções ao mesmo tempo que a maioria se afasta de ti. O mundo parece ser feito para quem bajula, para quem leva ao colinho, para quem diz que sim a tudo, para quem não reivindica. O mundo tem sido feito pelos quem têm o poder e pelos que querem beber um bocadinho desse poder. Não importa como.
O ativismo é consequência de uma insatisfação de alma. E isto é doloroso. É bastante doloroso. Às vezes, parece uma doença lá dentro, num sítio que nem sabes que existe. O assoberbamento do mundo pesa-te, faz-te perder as forças, hesitas se deves continuar, se não seria mais fácil pensar menos, agir menos, importar-se menos, empatizar menos. Mas é isso que querem, não é? Que deixemos de nos revoltar. Que sejamos mais um/a no mar de desinteresse. E como é fácil o desinteresse...
Não pensem que ser ativista é especial. Não nos faz especiais. Ser ativista é consequência de um mundo que não respeita as pessoas, os animais e a natureza. Ser ativista é perceber que o mundo está torto e que não nos sentimos parte dele. Viver na invisibilidade é dolorido.
Não pensem que ser ativista é nos acharmos superiores. Na verdade, é ao contrário: por vermos tantos/as como nós serem diminuídos é que a revolta começa. Viver revoltada/o é péssimo. Faz mal à saúde.
Ainda assim, ser ativista é o que nos sustenta no equilíbrio. Porque somos assim: almas livres; de diária desconstrução porque também temos os nossos preconceitos; corações sedentos por justiça; corpos que querem viver em segurança. Talvez o ativismo nos melhore os defeitos. Talvez não, porque somos pessoas. Não somos heroínas ou heróis, não queremos medalhas nem menções, não precisamos de validação. Só queremos que nos oiçam, que reflitam e que venham para o lado de cá da barricada.
Estar no lado certo não é fácil. Mas é menos difícil quando não estamos sozinhas/os.
Eu sou muito, muito grata a quem está connosco.