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Feminismos é Igualdade

10
Mai21

Somos feministas por um mundo novo


umarmadeira

ARTIGO DE GUIDA VIEIRA

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O pior que pode acontecer à causa do feminismo é considerar que, em nome da pandemia, lutar por esta causa de direitos iguais para todos/as é uma utopia e que o melhor é congelar a nossa luta à espera que a pandemia fique controlada, porque existem outras prioridades.

No meu entender, nada é mais prioritário do que continuar a estar atentas/os aos problemas que surgem na sociedade e que aprofundam, negativamente, os direitos que foram conquistados com tanta luta e com tanto empenho de um conjunto de mulheres, nas quais me incluo. Sempre nos disseram que o que reivindicávamos ou defendíamos era acessório e não era o fundamental.

No entanto, à medida que a nossa luta ia produzindo efeitos positivos e que fomos conquistando direitos que abrangiam todas as mulheres, mesmo aquelas que nada fizeram para que os mesmos existissem, toda a gente começou a ser beneficiada e, então, tudo se tornou importante e a sociedade que nos quis calar passou a aceitar esses direitos como "coisas importantes que devem ser perservadas".

É sempre assim no que toca às mulheres. Começam por atacar mas, depois, existe um render coletivo ao que é conseguido. Foi assim com a maternidade e paternidade. Foi assim com o planeamento familiar. Foi assim com a IVG. Foi assim com o crime público da VD. Foi assim com o direito à adoção. Foi assim com tanta coisa que hoje faz parte do nosso ordenamento jurídico sem qualquer perturbação.

Atacam-nos por nos definirmos como feministas, quando consideramos que devíamos ser tratadas, no cartão de identidade, como cidadãs. Que queremos ser olhadas na rua com respeito e admiração, e não à luz de preconceitos machistas e com assédio. Que queremos ser tratadas no feminino nos discursos oficiais ou nos cumprimentos formais. Não gostamos de ser tratadas no masculino porque nenhum homem nos representa nem nós representamos os homens. Ambos existimos e queremos continuar a ser todos/as olhados/as e tratados/as com respeito e admiração pelo que somos, e não pelo sexo com o qual nascemos.

Lutamos por uma sociedade inclusiva para todos os seres humanos. Queremos um mundo novo para que toda a gente seja feliz e respeitada, independentemente dos credos, religiões, orientações sexuais ou outras coisas que defendam. Cada pessoa é que sabe da sua vida. Cada pessoa é que sabe do que gosta. Cada pessoa é livre para decidir o que quer fazer da sua vida.

Defendo que o que deve predominar nas nossas vidas são todas as cores do arco íris. Só com esse colorido da vida é que podemos continuar a sonhar em ser felizes durante e depois da pandemia. Não podemos deixar de sonhar e de querer que a vida nos proporcione vivências mais felizes, onde cada ser humano tenha o mesmo direito a ser feliz e realizado.

Utopia, dizem. Então, sou defensora de utopias. Precisamos de acreditar que vamos ultrapassar esta pandemia e que, entretanto, não deixamos de lutar por aquilo que consideramos justo. É isso que tem feito a UMAR/Madeira, tentando aproveitar estes novos tempos para organizar documentação que retrate a memória coletiva do que tem sido a luta das mulheres. Queremos deixar o nosso contributo, até para que a memória não se perca. Estamos a trabalhar em mais documentos que servirão para debates futuros, porque a pandemia vai passar e vamos continuar a lutar por um mundo novo sem desigualdades e com mais empatia entre todas as pessoas.

A nossa luta por um Feminismo de intervenção não para e nenhuma pandemia o vai destruir.

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26
Jan21

Segurar quem nos ampara


umarmadeira

ARTIGO DE PAULO SOARES D'ALMEIDA

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Todos nós já tivemos um daqueles dias no qual pensamos que não deveríamos ter saído da cama, onde tudo corre surrealmente mal. Acredito que tenha sido isso que os/as trabalhadores/as do sector cultural tenham sentido em 2020. Só que, em vez de um dia aqui e ali, tirando algumas excepções – obviamente -, foram 366 dias. Ainda por cima, foi um ano bissexto, para que houvesse um dia extra de desencantamento com este ofício de existir.

É sabido que uma esmagadora parte dos espectáculos teve que ser cancelada, o que levou a, por exemplo, milhões de despedimentos, ao encerramento de teatros, cinemas ou livrarias. Infelizmente, esta situação acabou por resultar a que muitos desses profissionais ficassem sem condições para se alimentar, ou seja, uma afronta colossal à dignidade humana.

Nos momentos mais complicados da minha vida, além das pessoas que me amparam, a arte teve sempre um papel essencial na manutenção da minha (parca) sanidade mental. É nos filmes, nos discos ou nos livros que encontro um pouco de luz quando o breu teima em me rodear.

No primeiro confinamento, fui mais uma vez salvo pela arte. Agora, que voltamos a ser encarcerados, voltarei, certamente, a socorrer-me nela. Aproveitando a habitual reflecção e as inevitáveis listas com o melhor do ano que nos invadem por esta altura, deixo aqui algumas recomendações daquilo, que para mim, foi o melhor de 2020, com o intuito de tornar estes longos dias mais airosos – alerta pretensiosismo.

Começando pela música, foi praticamente consensual que Fetch the Bolt Cutters, da singular Fiona Apple, foi o disco do ano. Lançado no pico da pandemia, a crueza aliada à beleza da composição, tornou a quarentena de milhões de pessoas por esse mundo fora mais fácil.

Moses Sumney, um dos novos diamantes da música mundial, depois de um maravilhoso Aromanticism, em 2017, conseguiu elevar ainda mais a fasquia com um poético e hipnotizante græ.

Num ano também marcado pelo movimento #BlackLivesMatter, o misterioso grupo britânico SAULT, lançou um poderoso e reivindicativo Untitled (Black Is). O poder do funk, da soul ou do R&B junta-se ao protesto e resulta num álbum denominado mundialmente como a “banda sonora da revolução de 2020”.

Em Março, sem aviso, o lendário Bob Dylan, disponibilizou no seu canal de Youtube, o tema Murder Most Foul, o seu primeiro original desde 2012, onde deambula sobre o assassinato de John F. Kennedy. O tema de 17 minutos seria o single de avanço de Rough and Rowdy Ways, mais uma obra de arte do Nobel.

Run The Jewels, a dupla americana composta por El-P e Killer Mike, voltou com um criativo e assertivo RTJ4, onde mantêm a sua sonoridade característica, conjugada com uma mensagem forte da actualidade, directa e sem soar condescendente.

De uma forma mais sintética, também há que mencionar discos como Set My Heart on Fire Immediately, de Perfume Genius; A Hero's Death dos Fontaines D.C.; It Is What It Is, do Thundercat; What Kinda Music, do Tom Misch & Yussef Dayes; Source, da Nubya Garcia ou Alfredo, de Freddie Gibbs & The Alchemist.

Em Portugal, também tivemos excelentes projectos como o delicioso Kriola, de Dino D'Santiago, que é um hino à diversidade e orgulho negro; o encantador Madrepérola, da Capicua, onde a rapper portuense dá um necessário nocaute ao patriarcado, com o seu jeito aguerrido e poético; Rapazes e Raposas, do singular B Fachada, após o seu hiato; Canções do Pós-Guerra, do Samuel Úria; Eva, pela voz quente e bela de Cristina Branco; o homónimo Lina_Raül Refree, que junta a fadista com o produtor espanhol; Revezo, de Filipe Sambado; Liwoningo da talentosa Selma Uamusse; Uma Palavra Começada por N, do Noiserv; o fresco Meia Riba Kalxa, do Tristany; a doce simbiose de Fado Jazz Ensemble, do pianista Júlio Resende; ou o intemporal Caixa de Ritmos, álbum de instrumentais do poeta urbano Sam The Kid.

No cinema, apesar de uma grande parte dos filmes mais aguardados do ano ter visto as suas estreias adiadas, também tivemos um 2020 com qualidade e variedade, para todos os gostos.

Destaco Nomadland, da cineasta chinesa Chloé Zhao, que nos mostra a vida de uma mulher nómada, interpretado de uma forma brilhante por Frances McDormand – o que é uma redundância -, as dificuldades e prós que este estilo de vida acarreta, sempre presenteados com uma fotografia sublime.

Minari, de Lee Isaac Chung, onde acompanhamos uma família coreana que vai viver para o Arkansas, numa pequena fazenda em busca do sonho americano.

Listen, da portuguesa Ana Rocha De Sousa, é também um dos filmes do ano. Vemos por dentro o drama de uma família de emigrantes portugueses nos subúrbios de Londres, que vê a segurança social querer separar os filhos dos pais. Um valente murro no estômago, que nos deixa com a coração em estilhaços.

Da Dinamarca chega-nos Druk, mais um filme soberbo de Thomas Vinterberg, acompanhado de Mads Mikkelsen, com quem já tinha feito o memorável Jagten. Quatro professores testam a teoria que diz que manter constantemente um certo nível de álcool no sangue traz imensos benefícios à vida das pessoas.

Never Rarely Sometimes Always, da realizadora Eliza Hittman, vivemos de perto o drama de uma adolescente natural de um meio pequeno, que descobre estar grávida e tem que ir para Nova Iorque com a sua prima – também menor – para conseguir abortar. É um retrato dos perigos que uma jovem mulher pode passar.

Destaque, ainda, para I'm Thinking of Ending Thing, do genial Charlie Kaufman; The Trial of the Chicago 7 do reputado Aaron Sorkin, criador de The West Wing; Promising Young Woman da talentosa Emerald Fennell; o tocante Dick Johnson Is Dead, de Kirsten Johnson; o importante Soul, de Pete Docter; ou os documentários Beastie Boys Story, de inovador Spike Jonze e Crip Camp: A Disability Revolution, escrito e co-produzido por Nicole Newnham e James LeBrecht.

Queria deixar mais recomendações de outras áreas culturais, mas creio que já me tenha alongado, portanto ficar-me-ei por aqui. Espero que encontrem algo que possa tornar o vosso confinamento mais agradável.

Enquanto fazia estas listas, ia constatando no quão democrática é a arte, com homens e mulheres, dos quatro cantos do mundo, das mais variadas raças e etnias, expressões de género e orientações sexuais, estão aqui representados/as.

Se a arte tem todo este poder de nos ajudar nestas fases, acho que o mínimo é valorizar os/as seus/suas profissionais com a compra do seu trabalho. Nunca vos pedi nada, portanto, quem puder, não deixe de apoiar quem tem um papel tão importante na nossa sociedade.

P.S. – Juro que não tenho direito a qualquer tipo de comissão.

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28
Dez20

Precisamos de todas!


umarmadeira

ARTIGO DE MADALENA NUNES

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Aqui há dias vi um cartoon, cujo autor desconheço, que mostrava um pai a perguntar à filha pequenita: “Neste Natal queres uma boneca que chora?” ao que a miúda responde: “Não, quero uma que lute pelos seus direitos!”.

No passado dia 21 de dezembro, após a apresentação para discussão e votação do Plano Municipal da Igualdade do Funchal, tivemos oportunidade de ouvir alguns lugares comuns e politicamente corretos sobre “igualdade”. Ao fim de duas intervenções, um deputado pede para usar da palavra e vocifera que estas questões são baboseiradas. Que se ele quiser fazer um partido só de homens, que o deve poder fazer. Idem para um partido só de mulheres. Linguagem inclusiva é baboseirada e ridicularia, acrescenta ele. Perante tamanha veemência e irritação, vários deputados e deputadas do PSD e do CDS riem a bandeiras despregadas. Alguns vereadores e vereadoras também. Um deputado do Grupo Municipal Confiança, ao ouvir este discurso, diz que o deputado é um troglodita, ou algo assim, não me lembro bem. É logo invetivado em alta vozearia pelo grupo do PSD, sobre quem é ele para dizer uma coisa dessas! Do lado do PSD fui questionada sobre o que faz a vereadora com o pelouro da igualdade quando uma junta de freguesia do Funchal tem uma maioria de homens no seu elenco. Quando questionado sobre o que faz ele junto do seu partido que está no poder há mais de 40 anos e não aplica a lei da paridade no parlamento regional, não responde. Lembro que estávamos a falar de um direito previsto na Constituição da República Portuguesa, mas que parece não valer nada aos olhos de muitas pessoas com responsabilidades políticas, servindo só para chacota e enxovalho.

Anotei duas coisas durante esse debate (devo dizer que anotei mais umas, mas não as vou explanar aqui…):

1 - que efetivamente as questões da igualdade não estão confinadas a um setor político. Foram defendidas nessa mesma Assembleia Municipal pela deputada da CDU, Herlanda Amado, pela deputada do CDS, Carla Batista, pela deputada do PS do Grupo Municipal Confiança, Elisa Seixas e pelo grupo municipal da Confiança;

2 – que efetivamente muitas pessoas e partidos políticos consideram que a igualdade entre homens e mulheres é um frete que por enquanto terão de engolir, mas que esperam ver desaparecer brevemente.

Vivemos numa sociedade machista e patriarcal. Aquilo a que assistimos na Assembleia Municipal do Funchal, que tem todos os partidos lá representados, foi uma eloquente amostra. Só com uma ação conjunta e determinada de homens e mulheres é que poderemos defender a construção de um país gerido de forma paritária e que enquadre na sua gestão uma visão do mundo em que os valores da igualdade e da não discriminação estejam presentes em todos os momentos. O direito à igualdade só é um direito adquirido até o dia em que desaparece. E isso pode acontecer. Por isso, no fim de mais um ano, apetece-me agradecer a quem luta diariamente por um mundo em que homens e mulheres são tratados de forma igual e que lutam pela não discriminação. Vou mencionar algumas mulheres neste final do ano de 2020. Os homens são muito importantes nesta causa, mas vou só nomear algumas mulheres. Eles que me desculpem. E as que não estão aqui nomeadas, que me perdoem.

Obrigada, Elisa Seixas, Carla Batista, Herlanda Amado, Guida Vieira, Carla Abreu, Conceição Pereira. Obrigada, Rosa Monteiro, Graça Freitas e Marta Temido. Obrigada Maria Velho da Costa, Helena Ferro de Gouveia, Bárbara Reis, Maria João Marques. Obrigada, Catarina Ferreira, Sandra Nóbrega, Catarina Faria, Luísa Paolinelli, Paula Erra, Violante Saramago Matos, Cátia Pestana. Obrigada, Ana Gomes e Marisa Matias. Obrigada, Angela Merkel, Kamala Harris, Ruth Bader Ginsburg, Karima Baloch. Obrigada, UMAR Madeira. Obrigada, Mulheres Socialistas. Obrigada blogs e páginas de feministas e de direitos humanos. Obrigada a todas as mulheres anónimas que no seu espaço nunca desistem e não se calam, lutando para que a sua ação não seja tornada invisível e anulada. Precisamos de todas! Bom 2021!!!

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23
Jun20

Uma onda opressora…


umarmadeira

ARTIGO DE FÁBIO DINIZ

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Estaremos a regredir, a retroceder? Por vezes, tenho me questionado...

A situação epidemiológica atual nos confinou e, fatalmente, nos colocou diante daquilo que estava esquecido.

Naturalmente, algumas máscaras caíram, ou simplesmente ficamos perante um olhar mais próximo e real daquilo que, antes, já lá estava.

Isso gerou desagrados, trouxe desconfortos vários e uma lista interminável de dúvidas, cifras e tantas outras perguntas sem resposta, a cada dia levantadas.

Observamos alguns governantes, representantes políticos com um discurso torto, autoritário e com o objetivo de castrar as suas populações.

Assistimos de camarote alguns dirigentes de estado a brincar, de forma desastrosa, com um microrganismo que já havia anunciado a sua fatalidade.

Começámos a lidar e a aprender a gerir tanta dor e sofrimento ao redor do mundo.

Enquanto isso, tantos profissionais de saúde e inúmeros colaboradores trabalhavam arduamente para que os nossos produtos, bens e serviços essenciais fossem mantidos.

No entanto, alguns seres que deveriam governar e coordenar as suas comunidades, demonstravam seriamente o seu poder absurdo e fascista.

Sim, aquilo que há alguns meses já haviam deixado claro, estava agora perante o olhar atento do mundo.

Contornar esse fluxo tão insuportável, assustador e opressor passou a ser algo a que, inevitavelmente, tivemos que aprender a sobreviver.

Os recursos, as ferramentas e tudo aquilo que nos é útil passou a ser sagrado, de forma a manter a sanidade equilibrada.

Estamos perante um momento em que lutamos por direitos, por respeito, pela vida…

Assim o é para todas as minorias, as quais ferozmente os ditadores e toda a suprema ignorância surgem com a força primária e primitiva, derrubando e matando o que à frente estiver.

Até quando iremos violar e matar pela identidade de género, pela etnia, pela orientação, por toda e qualquer diferença manifestada? Pela normativa que não é respeitada… Qual é mesmo essa norma, esse dito “normal”? Algum ser humano é igual a outro? Não me parece, basta olharmos ao redor e uns para os outros.

Então, é hora de refletir, e saber o lugar e o papel que cada um de nós tem. Um posicionamento é, e vai continuar a ser, um manifesto, uma atitude que espelha a ideologia individual.

Lembremos também que o coletivo é o grupo, a comunidade, ainda assim, o indivíduo é um e único. Uma minoria não é apenas um… O respeito deve ser igual para ti, para mim, para todos.

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29
Jun19

O Ego do Orgulho


umarmadeira

ARTIGO DE EMANUEL CAIRES

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Ontem assinalaram-se 50 anos após o início das Revoltas de Stonewall - sim, foi uma sucessão delas! - em Greenwich Village, Nova Iorque, o grande marco que se considera ser o grande impulsionador do movimento pelos direitos LGBTI+. Hoje, em Lisboa, marcha-se pela 20.ª vez, onde pela primeira vez se faz história ao se formar um bloco insular que vai tirar as ilhas do armário. Um caminho percorrido por entre muitos obstáculos, tal como se pode verificar no documentário "A Vida e Morte de Marsha P. Johnson", que nos fala da vida de duas das grandes ativistas, também de Sylvia Rivera, que impulsionaram a Revolta.

Há duas semanas, ao ver o documentário, deparei-me com uma realidade que não é assim tão distante. É precisamente nos países desenvolvidos que as cores do arco-íris começaram a ser comercializadas pelas empresas, que viram nos eventos de Orgulho LGBTI+ uma oportunidade para lucrar. Nos anos 60, já esta era uma questão, com os estabelecimentos noturnos e os primeiros eventos de Orgulho a serem geridos pelas máfias, e com os lucros a não serem investidos de volta na comunidade e no combate à homobitransfobia. É uma promiscua realidade, que sendo difícil de combater deixa nas mãos da organização dos eventos de Orgulho LGBTI+, a responsabilidade de defender os interesses da comunidade sem que os interesses das empresas se sobreponham.

É importante salientar que mesmo nos anos 60 e 70, no início do movimento, já os egos, os atropelos e o oportunismo eram parte do ativismo LGBTI+. Neste caso, a luta era essencialmente feita por pessoas trans e de géneros não-binários, pretas, bissexuais, trabalhadoras do sexo, sem-abrigo e seropositivas, que eram invalidadas por homens cis gay brancos. Rivalidades que fizeram com que muitas destas pessoas, com altos níveis de intersecionalidade, acabassem por se retirar do ativismo e a não se identificarem com o que era feito, formando movimentos alternativos.

Marcha P. Johnson e Sylvia Rivera, viram mesmo as suas vozes abafadas e, durante algum tempo, foram personae non gratae. Esta é também uma realidade atual, até mesmo na nossa região. Depois de três anos de ativismo puro, com uma sinergia de pessoas e associações realmente empenhadas nos interesses da comunidade, na luta contra a homobitransfobia e na progressão da igualdade, tenho verificado nos últimos meses um afastar de pessoas e associações que eram pontes e pilares importantes no ativismo LGBTI+ na região.

Pessoalmente, acho que é altura de pausar e repensar se são realmente os interesses da comunidade que estão em cima da mesa, se são os egoísmos ou se é o oportunismo de se conseguir um tacho. Em 50 anos conseguiu-se tanto porque houve união e um conjunto de estratégias e sinergias internacionais. Em 20 anos de Orgulho em Portugal, conseguiram-se relevantes alterações legais porque houve, também, um trabalho conjunto. Na Madeira, em apenas 3 anos, conseguiu-se criar um núcleo local de uma associação de jovens lgbti, realizaram-se inúmeras atividades para jovens, implementou-se um projeto de debate e informação sobre questões LGBTI+ nas escolas, realizaram-se ciclos de cinema e ações para assinalar o Dia Nacional e Internacional de Luta Contra a Homobitransfobia, a Câmara Municipal do Funchal hasteou a bandeira arco-íris por duas vezes, juntámos associações à mesma mesa para trabalhar as questões LGBTI+, deu-se novo fôlego ao ativismo e associativismo regional, estamos a caminho do terceiro Madeira Pride, o Governo Regional quis apoiar a abertura de um Centro Comunitário LGBTI+ e começam a abrir-se portas para o turismo e comércio LGBTI+ através da abertura de um hotel hetero-friendly da Axel.

Conseguiu-se tanto progresso porque se criaram sinergias cruciais entre pessoas e associações que jamais devem ser destruídas, mas sim fortalecidas. É o meu apelo: pessoas lgbti+ e apoiantes, unam-se, pois quanto mais orgulho se encherem os nossos peitos, maiores feitos serão os que vamos conseguir.

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08
Jun19

Boy George e a Causa LGBTI+


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ARTIGO DE CARINA TEIXEIRA

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Hoje vou falar-vos de uma pessoa que, para mim, para além de ser um excelente cantor, é sobretudo um ativista. Um ativista da Causa LGBTI+. Falo-vos de Boy George, vocalista dos Culture Club. Boy George é considerado um dos grandes ícones da música pop dos anos 80. No entanto, ao longo da sua vida sofreu muita discriminação pelo facto de ser gay, de usar roupas extravagantes, cabelo longo com tranças e maquilhagem muito marcante. "Nunca pude esconder que sou gay desde os seis anos. Fui chamado de garota, de queer, de 'coisa'. Então sempre estive consciente que o mundo é um lugar horrível. Acreditei e reproduzi isso por muitos anos, que o mundo não mudou nem um pouco.", disse em entrevista à NME no final do ano passado.

Foi impedido, em 2009, de se tornar membro do movimento Hare Krishna (movimento ligado à espiritualidade), pelo facto de ser gay. Boy George sempre se declarou simpatizante deste movimento, mas para entrar não poderia ser LGBTI+, uma vez que segundo as crenças do movimento, o sexo e o desejo não conduzem à existência espiritual e o sexo só poderá ser feito para fins de reprodução.

Contudo, apesar de toda a discriminação vivida, o vocalista dos Culture Club sempre lutou de alma e coração pelos direitos LGBTI+, transpondo para algumas das suas letras e videoclips reinvidicações de direitos e a demonstração de amor homoafetivo. Alguns exemplos: "a música "No Clause 28" (álbum Sold - lançado em 1989), é uma afronta a Margaret Thatcher, que proponha a censura ao LGBTI+, a proibição de se falar na homosexualidade e fazer publicações sobre o assunto; a música "Turn 2 Dust" (lançada em 2011), que fala acerca do movimento LGBTI+, da importância de se lutar por aquilo que se acredita, independentemente do caminho ser difícil ou não; e, mais recentemente, a música "Love and Danger", em que é abordado no videoclip o relacionamento homoafetivo entre dois homens.

Hoje em dia, depois de uma carreira a solo, voltou a lançar um álbum com os Culture Club chamado "Life", que fala acerca das suas experiências de vida, nunca deixando de mencionar nas entrevistas a importância do ativismo, dos direitos LGBTI+ e a sua evolução ao longo dos anos. As pessoas consideram-no "pop ícone do género fluido", mas para Boy “O género fluido sugere que há a possibilidade de mudança e ela neste caso não existe. Eu sou um homem gay antiquado.”

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25
Mai19

Não deixar por mãos alheias o que é nosso!


umarmadeira

ARTIGO DE GUIDA VIEIRA

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O título deste artigo faz parte de um ditado popular que oiço desde pequena. Mas sabemos que nem sempre acontece assim. Houve sempre quem quisesse decidir por nós. Quem nos queira impingir o desconhecido, só porque sim. Quem nos trate ainda com menoridade, ou como minoria, quando sabemos que somos uma grande maioria que pode mudar muita coisa neste mundo.

No mundo em que vivemos estão a acontecer grandes coisas. Boas e más. O que mais me preocupa são os retrocessos no que diz respeito a direitos adquiridos com tanta luta e suor e que fazem parte das nossas vidas com toda a naturalidade. Sei que no mundo actual, outras questões estão na ordem do dia, como as alterações climáticas que influenciam toda a existência na Terra. Mas não considero contraditório continuar a estar atento e não deixar que haja retrocessos naquilo que foi adquirido e lutar com afinco por mudanças de mentalidade na forma como se encara a nossa vivência no Planeta Terra.

Mais do que nunca é preciso continuar a aliar ao que já foi conseguido outras conquistas. Mas há que saber tratar muito bem de tudo. Estar com atenção quando estamos a decidir, seja em relação a quem nos representa, seja em relação ao que vamos fazer. Se nada cai do céu, há coisas que só nós podemos decidir. Saber escolher de acordo com os balanços que fazemos. Não nos demitirmos e só dizer mal apenas porque sim.

Quando decidimos fazer uma escolha temos que conhecer bem o que estamos a escolher e não deixarmos que nos digam que o caminho é por ali, quando sabemos que é por aqui. Quando falamos de escolhas temos que estar conscientes, e seja qual for o resultado, sentirmos que as nossas consciências estão tranquilas.

Que não nos deixamos manipular com medo de maiorias, ou minorias. É tão bom ter o poder nas nossas mãos: de fazer, de dizer, de querer e de decidir. Nunca devemos delegar o nosso poder em quem não acreditamos que seja capaz de nos representar ou defender. Mesmo que nos digam “não vais por aí”, devemos fazer o que a nossa consciência manda. Só assim nos sentiremos realizadas e felizes.

Pela experiência da vida de feminista e activista, de corpo inteiro, pelos direitos das mulheres, sinto que cada vez mais precisamos de Gente que saiba o que fazer quando é preciso agir e defender o que nos interessa. Só assim podemos sentir segurança no prosseguimento da luta e no trazer para a agenda as novas questões que preocupam quem realmente defende os direitos humanos.

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05
Mai19

Divagações sobre a Arte...


umarmadeira

ARTIGO DE LUÍSA PAIXÃO

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A resiliência de todos os povos e grupos que foram ocupados, oprimidos, maltratados, ignorados e explorados das mais variadas formas, ao longo dos tempos, é conhecida e, para além de estar registada, diretamente ou sub-repticiamente, nos documentos históricos, é tema recorrente na Ficção Literária, nas Artes Plásticas, na Música e em todas as outras Expressões Artísticas, não esquecendo o Folclore a o Artesanato.

Ainda que dedicasse este texto apenas enumerar os Artistas e Peças Artísticas que perpetuaram essa resistência e homenagearam a luta desses seres humanos a quem tanto devemos, faltaria sempre alguém ou algo. No entanto, não podemos esquecer que, tal como a História, também as Expressões Artísticas, ao longo dos tempos, sofreram as influências do poder dominante, das regras ditadas pela sociedade da época e da manipulação levada a cabo pelos contextos sociais e políticos.

Nenhuma destas contingências deve, na minha opinião, servir para desvalorizar uma obra de arte, mas sim fazer-nos refletir, pois, felizmente, a nossa visão sobre o mundo está a mudar e é com o novo olhar que essa mudança nos traz que devemos analisar a Arte e honrá-la, em todas as suas formas. Não há dúvida que temos uma dívida para com a Arte e os Artistas, que só poderá ser paga se exigirmos condições para que exerçam em liberdade e igualdade o seu trabalho, de forma que todas as franjas da sociedade sejam representadas. Estes são direitos que têm de ser respeitados, pois coartar esses direitos será comprometer o futuro legado da Humanidade.

Ao longo dos tempos, a fome e o ostracismo acompanharam aqueles Artistas que ousaram ser diferentes e ir contra os poderes instituídos, sendo atirados para a margem da sociedade e, muitas vezes, para a mendicidade como única forma de sobrevivência.

Se é verdade que a Arte permaneceu enquanto o poder e os poderosos ficaram perdidos na nebulosidade dos tempos, não podemos continuar à espera que esse reconhecimento seja trazido pelo futuro. Não podemos continuar a aceitar que a mão protetora dos diferentes regimes nos guie pelas Galerias, pelos monumentos, pelas Livrarias e pelas salas de Espetáculo. Vamos valorizar os nossos Artistas Aqui e Agora.

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27
Abr19

Da liberdade de escrever...


umarmadeira

ARTIGO DE VALENTINA SILVA FERREIRA

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Abril, mês da liberdade. Ontem lancei um livro erótico. O ano passado, por altura do Dia das Mulheres, a Joana apresentou o seu primeiro livro de poesia. A Guida escreve mensalmente para o Diário, fora tudo o que já publicou. A Conceição também escreve desde há muito. Elas, assim como a Assunção, a Cássia e a Carina exprimem-se neste blog. Isto só é possível porque Abril, naquele 25 de cravos e esperanças, permitiu que as mulheres se expressassem livremente em Portugal.

A literatura escrita por mulheres não é moda; tampouco as opiniões escritas por elas. O que se destaca agora, e cada vez mais, é uma adaptação do mercado editorial, cultural e político à voz das mulheres, sendo que até há poucas décadas eram elas quem se encaixavam, secretamente, muitas vezes escondidas sob pseudónimos masculinos, a um mercado feito por e dirigido a homens.

O relato masculino sempre foi o favorito. Repare-se que as grandes figuras femininas da literatura, aquelas personagens marcantes, foram descritas por homens. Uma mulher que escreve sobre outra mulher terá, certamente, outra complexidade.

Sylvia Plath, Judith Shakspeare e Virgínia Stephen tentaram reivindicar igualdade através dos seus textos. As três suicidaram-se porque a pressão era muita. Por cá, em altura de repressão, Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa decidiram escrever um livro juntas (“As Novas Cartas Portuguesas”), desafiando os papéis sociais e sexuais esperados das mulheres. Foram censuradas, perseguidas, interrogadas.

A literatura escrita por mulheres é fundamental: mais não seja por sermos mais de metade da população, por termos, como qualquer ser humano, ideias e ideais, sentimentos e opiniões, momentos e movimentos. Conquistamos, aos poucos, o nosso espaço merecido após séculos de opressão, de barreiras, de nãos. Queremos que a interação do feminismo com as artes faça com que a história deixe de ser escrita apenas por homens. Queremos participar. Queremos dar a cara e a voz. Queremos assinar com o nosso nome: Valentina, Joana, Guida, Assunção, Cássia, Carina e Conceição.

Abril trouxe-nos isto: esta gigante pertença a um mundo que é cada vez mais nosso, mais feito das nossas palavras – palavras diferentes porque somos todas mulheres diferentes, porque nos expressamos de forma diferente. A riqueza desta diversidade é o que se impõe agora. Escrevamos mais. Com gritos, se preciso for. Com fúria. Com sede. Mas escrevamos. Ninguém mais nos cala. Obrigada, Abril.

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13
Abr19

Batalhar na Igualdade de Género, faz sentido?


umarmadeira

ARTIGO DE CÁSSIA GOUVEIA

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Não há dúvida de que houve um progresso nas últimas décadas, este progresso deveu-se em parte à custa da luta incansável de ativistas. Para mim, nos dias de hoje o maior desafio no que diz respeito à igualdade de género, é a educação. A mudança começa dentro da casa de cada um e de cada uma. Eu acredito que se começarmos a educar as nossas crianças, a nossa mãe, o nosso pai, o nosso irmão ou irmã para a igualdade, para os direitos humanos, para a cidadania, para a paz, daqui a uns anos estaremos com as várias formas de desigualdade menos visíveis.

Muitas vezes questiono “e se acontecesse/fosse contigo?” Tento sempre fazer com que cada pessoa que está no meu ambiente familiar se coloque no lugar da outra pessoa. As pessoas precisam urgentemente de aprender a parar e ouvir, compreender e respeitar. Aprender a respeitar cada pessoa independentemente de diferenças das capacidades, género, orientação sexual, raça, cultura… Se tenho visto resultados? Claro que sim. Eu não nasci a saber o que era a igualdade de género ou numa bela amanhã acordei e saltei da cama a dizer “sou feminista”. Eles e elas também não. É preciso educar!

Existe um preconceito que deriva sobretudo da ignorância, a maior parte das pessoas não sabe o que é ser feminista. Por isso, hoje passo a mensagem, amanhã volto a fazê-lo, depois de amanhã e depois, depois, depois…. E todos os dias o meu pai, a minha mãe, a minha sobrinha e todas as pessoas que convivem comigo vão interiorizando cada palavra e essa palavra passa para onde quer vão, para o trabalho ou para a escola.

Mas... Em todas as vidas existe um mas. Isto é dentro do meu seio familiar, no meu lar, onde existe diálogo, compreensão e união. Não é possível promover a igualdade de género se não houver condições dignas de sobrevivência. Na mesma, tento passar a mensagem às pessoas que vou encontrando no meu dia a dia e tento trabalhar a mentalidade dessas pessoas para que de alguma forma essas pessoas se sintam respeitadas nos seus direitos, não apenas por serem mulheres ou homens, mas por serem mulheres e homens que têm determinadas características que as e que os tornam mais vulneráveis.

A igualdade de género ainda está longe de ser uma verdade absoluta, mas como sou uma sonhadora não deixarei de lutar, sei que daqui a alguns anos a questão ainda não estará resolvida, mas, acredito que todos e todas terão um maior usufruto dos seus direitos.

Nesta luta, juntar-se-ão outros e outras feministas e lutaremos por um conjunto de exigências curriculares e sociais, lutaremos sempre pela promoção da igualdade de género, pela mudança de mentalidades, por uma maior liberdade, sempre que necessário sairemos à rua, em todo o lado encontrar-nos-ão. Acreditem muito ainda vai acontecer… Por isso sim, faz sentido batalhar na igualdade género!

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