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Feminismos é Igualdade

11
Jan21

O Voto: cartão dourado da democracia


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ARTIGO DE LUÍSA PAIXÃO

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Pela segunda vez desde o início da pandemia os portugueses e as portuguesas são chamados a exercer o seu dever de votar. Depois das Eleições Regionais dos Açores, agora, teremos uma eleição a nível nacional, com a maior parte da população em confinamento geral ou parcial.

Esta situação é, sem dúvida, mais um teste à democracia no nosso país, que, nos últimos tempos, tem sido como nunca, desde a Revolução de Abril, desafiada nos seus princípios e valores fundamentais, sendo, por isso, tão importante preservá-los, sobretudo aquele que está na base de qualquer regime democrático, o direito ao voto.

Vemos que, há uma demissão cada vez maior de participação cívica e democrática, por parte da população, nas decisões que a todos dizem respeito, entregando-as cegamente nas mãos das instituições governativas e ignorando  totalmente as suas responsabilidades de intervir de forma comprometida, enquanto cidadãs e cidadãos de um mundo onde, urgentemente, temos todos de assumir as nossas responsabilidades cívicas, sob pena de, se não o fizermos, deixarmos escapar a réstia de humanidade que ainda existe e sem a qual não conseguiremos ultrapassar este momento tão difícil que estamos a enfrentar.

Façamos um exercício mental a tentar imaginar como seria sobreviver a esta pandemia no tempo do Estado Novo, regime que, atualmente, exerce um enorme fascínio em algumas pessoas, as quais, obviamente, não o experimentaram ou viveram-no do lado dos opressores. Se fizermos esse exercício, com base em fontes fidedignas, chegaremos rapidamente à conclusão do desespero sem limites que estaria a sofrer a maioria da população portuguesa, pois, para além das condições de enorme pobreza geral em que viviam, não poderiam efetuar qualquer queixa ou denúncia, visto que as mesmas seriam vistas como um ataque ao regime e punidas “exemplarmente”.

Não podemos negar o quão desesperante está a ser a vida para os setores mais frágeis da sociedade, nomeadamente com o alastrar do desemprego. Esta pandemia agravou as diferenças sociais, alastrou a pobreza, aumentou a discriminação e todos os tipos de violência. Mas, como vivemos em democracia, todos essas injustiças podem ser denunciadas. Podemos obrigar o poder instalado a confrontar-se com as suas atitudes e, ainda que, na maior parte dos casos, a nossa denúncia não resolva os problemas graves que existem, está nas nossas mãos continuar a lutar e manter a liberdade para continuar a travá-la. Todas as denúncias que hoje fazemos, toda a visibilidade que damos às injustiças que grassam na sociedade, só conseguimos fazê-las porque vivemos num sistema democrático.  No entanto, para que essa democracia seja verdadeira é preciso que usemos a arma que nos dá o verdadeiro poder: o voto.

Não podemos desprezar a herança deixada por todas e todos aqueles que lutaram, com sangue, suor e lágrimas, sacrificando o seu futuro, pelos ideais democráticos. Cabe-nos a nós, não defraudar a esperança desses homens e dessas mulheres, honrando as suas conquistas.

Fazer com que toda a população, sem qualquer distinção possa exercer o direito ao voto é algo que temos de exigir ao Governo, a nós cabe-nos exercer esse direito. 

A história recente já nos tem mostrado as consequências da abstenção e o que pode acontecer quando achamos que o nosso voto é algo sem importância. O preço a pagar pelo comodismo geral das nossas sociedades tem sido um vergonhoso recuo na história dos direitos humanos.

Temos de usar a nossa arma mais poderosa, já no dia 24 de janeiro, votando para a Presidência da República.

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31
Out19

A bruxa: o ícone feminista mais antigo


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ARTIGO DE JOANA MARTINS

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O espectro da bruxa abrange factos e ficção. Uma mulher velha, enrugada, a segurar uma maçã envenenada na mão direita, ansiosa por se vingar de uma bela jovem. Uma solteirona experiente casada com os seus livros, e conhecedora das propriedades mágicas de muitas plantas. Uma mulher extremamente bela à custa de feitiços sombrios, extremamente sedutora com os seios praticamente à mostra e um olhar hipnótico, que controla e manipula os homens que quiser…

A bruxa personifica o medo, porque controla forças que transcendem o corpo mortal e encarna uma feminilidade poderosa, livre da influência masculina ou, simplesmente, uma mulher livre. Ao longo da História, a figura da bruxa desafiou narrativas patriarcais personificando o poder das mulheres, tornando-a num dos ícones feministas mais duradouros de todos os tempos.

A figura da bruxa tem origem nas deusas da mitologia de diversas civilizações, com um legado que se estende até há milhares de anos atrás, desde o mito de Inanna, a irmã do deus-sol Utu na mitologia Suméria, às histórias hindus da deusa Kali e mitologia celta da deusa Brigit, ambas personificando a Mãe Natureza, e os contos da deusa Hécate na Grécia Antiga, associada à magia e bruxaria. Estas deusas tinham a capacidade de gerar e tirar a vida, e eram adoradas por isso. Ainda assim, as suas capacidades eram sempre alvo de dúvidas. À medida que as religiões monoteístas foram se expandindo e ganhando poder, as crenças foram se consolidando em torno de uma divindade onipotente masculina, havendo uma maior secundarização das mulheres em todos os aspetos.

Entre os séculos XIV e XVIII na Europa, milhares de pessoas acusadas de bruxaria foram torturadas e mortas pela Inquisição, um grupo de instituições dentro do sistema jurídico da Igreja Católica Romana, com o objetivo de “combater a heresia”. Embora alguns homens também tivessem sido apanhados na confusão deste pânico em massa – muitos deles, visionários e cientistas – a maioria das pessoas horrivelmente torturadas, abusadas sexualmente e queimadas na fogueira eram mulheres. Curandeiras e parteiras com grande conhecimento sobre a reprodução e o corpo humano, que ameaçavam educar e ensinar uma população altamente – e convenientemente, para a igreja – ignorante. Mulheres que eram alvo de suspeita por possuírem “demasiadas” terras, riqueza ou influência. Eram mães, irmãs e filhas, que estavam no lugar errado à hora errada. E foram, pura e simplesmente, castigadas por isso.

À medida que as bruxas foram capturando a imaginação do público nos livros e nos ecrãs, o seu retrato sempre se baseou no medo dos homens da sexualidade feminina, ou na representação simplista de mulheres velhas, ciumentas e invejosas, revoltadas contra mulheres mais novas, ingénuas e “bonitinhas”. Os exemplos de histórias da cultura popular onde as bruxas são assim retratadas, par a par com inúmeros estereótipos para catalogar as “princesas boazinhas” e “normalizar” a violência doméstica, são inúmeros. Alguns exemplos: Cinderela, Bela Adormecida, A Bela e o Monstro, Branca de Neve, Rapunzel.

À medida que o movimento feminista foi ganhando visibilidade, a representação da bruxa foi se tornando cada vez mais complexa. A narrativa deixou de ser escrita apenas por homens, e a sua história foi reformulada por mulheres. Um exemplo recente é a escritora J. K. Rowling e a sua saga “Harry Potter”, que descreve o quanto é necessário o estudo para se tornar num/a bruxo/a, e desafia estereótipos como, por exemplo, na sua representação de Hermione Granger. Ao mesmo tempo, a argumentista Linda Woolverton atualizou a história de “Bela Adormecida” para humanizar a bruxa, no filme de 2014 “Maléfica”, numa tentativa de acabar com as personagens exclusivamente más ou boas.

Ainda assim, tanto em séries como em filmes, ainda estão presentes perigosos estereótipos, para vender uma versão menos política e mais consumível da bruxa, mas a expansão do feminismo na cultura popular tornou estas escolhas menos viáveis. Desde “As bruxas de Eastwick”, passando por “Penny Dreadful” e “American Horror Story: Coven”, os novos retratos das bruxas abriram, simultaneamente, velhas feridas na história da opressão das mulheres, e ajudaram a despertar as pessoas para as injustiças que as mulheres sofreram ao longo da História – muitas das quais continuam até aos dias de hoje.

As acusações de bruxaria foram, outrora, utilizadas para controlar o comportamento das mulheres (e ainda são, num número impressionante de países em todo o mundo), mas agora, mais do que nunca, as bruxas tornaram-se em símbolos de mulheres que desafiam dificuldades e obstáculos. Uma vez que os direitos reprodutivos, a igualdade salarial, a liberdade sexual e a luta contra a violência sobre as mulheres continuam a ser alguns dos objetivos principais da luta feminista, a bruxa vai permanecer como uma representação das nossas frustrações e da nossa luta pela igualdade e poder, para além do patriarcado.

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12
Set19

43 anos. Já somos adultas


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ARTIGO DE GUIDA VIEIRA

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Fazemos 43 anos. Nascemos a 12 de Setembro de 1976. Já somos adultas e mobilizadas para continuar a lutar pelos nossos direitos e por uma sociedade de igualdade para todas as Pessoas. Quando alguém ainda nos questiona sobre a razão da nossa existência, por quê continuamos a ser uma associação apenas de mulheres, nós respondemos prontamente: Porque as mulheres continuam a ter todas as razões para continuar a lutar pelo seu direito a ser igual. Porque a sociedade onde vivemos, embora se diga muito modernizada, ainda não criou as devidas condições de igualdade. Porque sabemos muito bem que ninguém melhor que nós para defender o que nos interessa, e por isso, não passamos cartão em branco, seja a quem for, para nos representar. Queremos ser donas dos nossos destinos, de corpo inteiro, e intervir em todas as áreas, mostrando que somos polivalentes e temos capacidades inesgotáveis para trabalhar, intervir e influenciar.

Temos provado ao longo destes 43 anos de existência que sabemos nos adaptar às novas situações que, entretanto, foram sendo criadas. Alteramos duas vezes a nossa designação mas mantivemos sempre a nossa sigla. Hoje somos uma Associação de alternativa pela igualdade de direitos mas também apresentamos respostas para os problemas. Seja através da revindicação, seja no apoio concreto às mulheres com quem trabalhamos.

Este nosso aniversário coincide com um período eleitoral duplo, no caso da nossa Região. Vemos algumas mulheres em cartazes e algumas a intervir. Poucas falam no que nos interessa enquanto feministas. Parece existir até um afastamento da nossa causa. Acho, ainda, que algumas se envergonham, porque não entendem que o feminismo é, tão-somente, defender a igualdade para todos os seres humanos. Para não falar dos que nos acham umas radicais porque falamos muito nos direitos das mulheres, na violência doméstica e nos assassinatos de mulheres. Este ano já foram 19, incluindo uma da nossa Região. Acham que a nossa causa, por uma sociedade sem desigualdades, de sexo e de género, é uma chatice que eles têm que tolerar, de vez em quando, de preferência só uma vez por ano, para dizerem que até são progressistas.

Mas temos que estar atentas porque estão em jogo os futuros Parlamentos que vão legislar e os futuros governos que vão governar. Há muita reivindicação em cima da mesa por decidir. Desde já em relação à necessidade da educação para prevenir a violência, a começar nas famílias e nas escolas desde o 1º ciclo até ao ensino secundário, profissional e superior. Não conseguiremos mudar as mentalidades se este trabalho preventivo não for feito. Maior celeridade nos casos de violência doméstica, afastando o agressor de casa e protegendo eficazmente as vítimas. Mais empenho, e apoio regional, ao trabalho desenvolvido por todas as associações que trabalham com a igualdade de género, sem controlos e sem exigências de calendários partidários.

Queremos que o próximo parlamento regional seja mais representativo em relação às mulheres, em que as eleitas sejam interventivas e exigentes relativamente aos nossos direitos e não sejam apenas jarras para enfeitar ou, então, sejam vozes iguais a tantas outras que não entendem as razões da nossa luta. Queremos deputadas/os feministas, sem medo de o demonstrar, porque a sociedade de igualdade é apenas, e tão só, o termos direitos iguais.

VIVA O 43º ANIVERSÁRIO DA UMAR!

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25
Mai19

Não deixar por mãos alheias o que é nosso!


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ARTIGO DE GUIDA VIEIRA

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O título deste artigo faz parte de um ditado popular que oiço desde pequena. Mas sabemos que nem sempre acontece assim. Houve sempre quem quisesse decidir por nós. Quem nos queira impingir o desconhecido, só porque sim. Quem nos trate ainda com menoridade, ou como minoria, quando sabemos que somos uma grande maioria que pode mudar muita coisa neste mundo.

No mundo em que vivemos estão a acontecer grandes coisas. Boas e más. O que mais me preocupa são os retrocessos no que diz respeito a direitos adquiridos com tanta luta e suor e que fazem parte das nossas vidas com toda a naturalidade. Sei que no mundo actual, outras questões estão na ordem do dia, como as alterações climáticas que influenciam toda a existência na Terra. Mas não considero contraditório continuar a estar atento e não deixar que haja retrocessos naquilo que foi adquirido e lutar com afinco por mudanças de mentalidade na forma como se encara a nossa vivência no Planeta Terra.

Mais do que nunca é preciso continuar a aliar ao que já foi conseguido outras conquistas. Mas há que saber tratar muito bem de tudo. Estar com atenção quando estamos a decidir, seja em relação a quem nos representa, seja em relação ao que vamos fazer. Se nada cai do céu, há coisas que só nós podemos decidir. Saber escolher de acordo com os balanços que fazemos. Não nos demitirmos e só dizer mal apenas porque sim.

Quando decidimos fazer uma escolha temos que conhecer bem o que estamos a escolher e não deixarmos que nos digam que o caminho é por ali, quando sabemos que é por aqui. Quando falamos de escolhas temos que estar conscientes, e seja qual for o resultado, sentirmos que as nossas consciências estão tranquilas.

Que não nos deixamos manipular com medo de maiorias, ou minorias. É tão bom ter o poder nas nossas mãos: de fazer, de dizer, de querer e de decidir. Nunca devemos delegar o nosso poder em quem não acreditamos que seja capaz de nos representar ou defender. Mesmo que nos digam “não vais por aí”, devemos fazer o que a nossa consciência manda. Só assim nos sentiremos realizadas e felizes.

Pela experiência da vida de feminista e activista, de corpo inteiro, pelos direitos das mulheres, sinto que cada vez mais precisamos de Gente que saiba o que fazer quando é preciso agir e defender o que nos interessa. Só assim podemos sentir segurança no prosseguimento da luta e no trazer para a agenda as novas questões que preocupam quem realmente defende os direitos humanos.

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17
Set18

Nunca desistir, mas saber passar o testemunho


umarmadeira

ARTIGO DE GUIDA VIEIRA

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Se há coisas que a sociedade precisa, urgentemente, é de uma renovação de ideias e de mais gente nova a intervir. Isto coloca-se em todas as vertentes, social, política, económica e também na área da luta pelos direitos das mulheres e pelo avanço da verdadeira igualdade de género e do feminismo, enquanto objectivo de uma verdadeira igualdade de oportunidades.

A UMAR, enquanto organização social de mulheres, tem estado a conseguir este feito. Temos gente mais velha, ainda algumas fundadoras, nas quais me incluo, que já andam nesta luta há 42 anos; temos mulheres que já entraram mais tarde e que hoje ocupam cargos importantes na nossa organização; e temos uma nova vaga de associadas que se estão a preparar e a se formar, para serem elas, no futuro, as continuadoras deste trabalho que já vem de mais de quatro décadas.

É preciso entender que as lutas do passado, de que muito me orgulho, do meu tempo e das mulheres que, em Portugal e em todo o mundo, nos antecederam, são as nossas referências que nunca devem ser esquecidas porque foi graças aos nossos e aos seus feitos que aqui chegamos. Mas precisamos de chamar mais gente nova para as nossas organizações, procurando criar condições para que, pouco a pouco, vão tendo algum protagonismo, e amanhã estejam em condições de levar a nossa luta para a frente.

Dizem algumas pessoas que, comparadas com as grandes lutas anteriores e mesmo com a produção teórica de algumas mulheres que escreveram sobre o feminismo, esta gente nova não passa de “pés de chinelo”. Mas todas nós fomos “pés de chinelo” alguma vez na vida. Porque muitas vezes partimos do zero e quantas vezes nos interrogamos o que andávamos aqui a fazer, porque as reivindicações eram tantas e as necessidades da luta, muitas vezes, nem nos deixavam tempo para aprofundarmos, e até lermos, alguns dos livros que hoje conhecemos melhor. Só muito recentemente é que os feminismos começaram a ser objecto de mais aprofundamento e, mesmo assim, muito falta conhecer e fazer a esse nível.

A UMAR e todas as organizações que trabalham e lutam para criar alternativas para a causa da verdadeira igualdade de direitos, a todos os níveis da sociedade, só terão futuro se souberem integrar as novas gerações e irem passando a experiência com muito carinho, atempadamente, sabendo criar as oportunidades para que, umas e outras, se sintam felizes e realizadas naquilo que fazem, para que o futuro seja assegurado e a luta pela nossa causa continue, porque ela tem sido longa e há muito trabalho a fazer para mudar as mentalidades que ainda pensam que as mulheres são uma espécie de propriedade privada, e é por isso que continuam a ser assassinadas, no nosso país, e no mundo inteiro, milhares de mulheres todos os anos. Só este ano, em Portugal, já foram mortas 21 mulheres.

No meu artigo anterior, prometi voltar à carga sobre o papel das mulheres para ocuparem os lugares a que têm direito sem se sentirem jarras de enfeitar. Acho que algumas já compreenderam que é aceitando os novos desafios, a todos os níveis da sociedade, que essa transformação pode acontecer. Mas é preciso acreditar que isso só é possível se existir vontade e disponibilidade pessoal para essa participação e não desistir perante os obstáculos que dia-a-dia vão surgindo.

Vencer as barreiras, que são muitas, é um grande desafio que temos pela frente. Não voltar as costas às dificuldades. Não desistir perante as adversidades, insistir nas nossas causas, mesmo que pareça que o “mundo” nos vira as costas, é, e tem sido sempre o meu lema, nesta nobre causa que é a luta para que um dia este mundo seja mais justo e mais igualitário. Já tivemos avanços mas precisamos de continuar a trabalhar de mãos dadas, em harmonia com aquilo que defendemos, nunca desistindo mas sabendo passar o testemunho às novas gerações, sabendo que cabe a elas cuidar do nosso futuro.

Tenho muito orgulho no trabalho que a UMAR em todo o País está a fazer neste sentido. Na Madeira, também estamos no bom caminho, com ainda muito trabalho pela frente, mas com a certeza que estamos a assegurar o futuro.

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12
Set18

Igualdade de género e Feminismo


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ARTIGO DE MARIA JOSÉ MAGALHÃES

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Igualdade, liberdade e solidariedade constituem os três lemas fundacionais da sociedade moderna, inaugurada pela Revolução Francesa e consubstanciada pelas legislações constititucionais liberais que se foram estendendo a grande parte das nações do mundo, a partir daí (em Portugal, a 1ª Constituição liberal é de 1820). Apesar das promessas liberais, cedo as populações compreenderam que estes princípios não seriam aplicados a todas as pessoas, ficariam apenas como retórica liberal, a não ser que as lutas sociais conseguissem a sua concretização. Feministas em vários pontos do mundo se aperceberam de que a noção liberal de igualdade não se aplicava a nós, seres humanos do sexo feminino, e que a luta pelos mesmos direitos que os homens teria de ser feita com firmeza e convicção. Não sabiam elas que duraria tanto tempo — séculos.

Os movimentos dos trabalhadores e os movimentos pelos direitos civis para negros (e negras?) foram fazendo o seu caminho lutando contra as noções liberais de igualdade e liberdade que incluíam, explicitamente, noções capitalistas (de quem detinha propriedade) e colonialistas (racistas) subjacentes à ideia de igualdade. As suas lutas marcaram a história, mas a igualdade ainda não foi completamente conseguida.

As mulheres, organizadas em movimentos, grupos e ativistas, têm pugnado longa e firmemente pelo estabelecimento de plenos direitos de cidadania para todas as mulheres. Mas ainda temos de combater a prevalência de noções liberais de igualdade.

A consciência da discriminação de género ainda não está estabelecida, criando, em mentes mais distraídas, a ideia de que as mulheres querem ser idênticas aos homens. Podíamos argumentar que o movimento pelos direitos civis, ao lutar pela igualdade entre brancos e negros, pelo fim do colonialismo e da colonialidade, nunca perspetivaram a mudança da cor da pele para almejar igualdade de direitos. Também para as mulhres, trata-se de conseguir os mesmos direitos, não apenas no papel (na lei), mas também na vida.

Mas há ainda mais uma batalha a vencer na luta pela igualdade de género, combatendo noções liberais de igualdade entre homens e mulheres. Hoje, a causa da igualdade de género é cada vez mais consensual, mas continua confinada aos limites da perspetiva liberal. É esta perspetiva que apregoa mundo dividido por privilegiados/as e desprivilegiados/as como consequência de uma divisão “natural”, fundada na falsa ideia de mérito, que um feminismo de agência deve ainda de combater. As feministas progressistas, de esquerda, revolucionárias, que lutam pela transformação social, por um mundo mais justo e democrático para todas e para todos, combatemos por uma igualdade de género em que, não só homens e mulheres tenhamos os mesmos direitos na lei e na vida, mas que entre as mulheres (como entre os homens) também se eliminem as divisões de classe, “raça”/etnia, orientação sexual, região ou religião, para que um mundo em que todas as pessoas tenham iguais direitos seja possível. Em que os lemas igualdade, liberdade e solidariedade (sororidade, como costumamos dizer no movimento feminista) deixem de ser apenas uma vaga retórica e constituam as linhas orientadoras dos nossos quotidianos e da governação local, nacional e mundial.

A UMAR tem vindo a fazer caminho, há mais de 40 anos, para que esta visão seja cada vez mais possível – uma igualdade de género que concretize igualdade de direitos para todas as mulheres. Nesta luta por uma igualdade de género substantiva, lembramos todas as mulheres, e especialmente, as mulheres trabalhadoras, desempregadas, negras, de etnias diferentes (como ciganas), lésbicas, das zonas do interior e das ilhas, de fora dos grandes centros urbanos, das meninas, das jovens à procura de emprego e de alguma estabilidade nas suas vidas, das imigrantes, das mães sós, das portadoras de alguma(s) deficiência(s), das idosas. Se conseguirmos a igualdade para todas as mulheres, um enorme passo será dado para se conseguir um mundo justo, democrático e solidário para todas as pessoas.

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07
Set18

A única coisa que cai do céu é chuva. O resto é luta!


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ARTIGO DE MADALENA SACRAMENTO NUNES

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A escrita tem sido, ao longo da história da humanidade, uma bênção, mas também um ato perigoso. Pensemos no nosso próprio país, em que a censura esteve em vigor durante o tempo da ditadura. Jornais, livros, teatro, cinema, música, humor tudo foi alvo do famoso lápis azul, que determinava o que podia ou não chegar ao público em geral.

E porquê? Talvez porque a informação e o conhecimento, se colocados em ação, podem significar acesso ao poder. Não é por acaso que se defende que a educação é um instrumento de fulcral importância numa sociedade. Não é só por causa da questão de se ter acesso a melhores empregos, mas também conta o facto de que pessoas mais instruídas terão mais hipóteses de serem menos influenciáveis, identificando melhor a demagogia, a mentira, a manipulação. Ter conhecimentos e usá-los sempre que precisarmos é ter o poder de fazer a diferença em cada situação.

Tudo isto a propósito de 2019. Vai ser um ano com três atos eleitorais na RAM: eleições para o Parlamento Europeu, eleições para a Assembleia da República, eleições para o Governo Regional. Tanto nas eleições para a União Europeia, como nas legislativas já vai estar em vigor a lei da paridade alterada em abril de 2018. Infelizmente na RAM continua a ignorar-se a lei da paridade. O que traz essa lei de importante e que alterações introduz relativamente à anterior? Esta lei pretende que as listas de candidatos e candidatas dos diferentes partidos políticos tenham uma representação mais equilibrada dos dois sexos. Aqui vão algumas coisas que passarão a ser diferentes em 2019:

  • Os dois primeiros lugares de cada lista têm de ter, obrigatoriamente, pessoas de sexos diferentes;
  • Se algum candidato ou candidata tiver de sair antes do fim do mandato, só pode ser substituído pela pessoa do mesmo sexo que venha a seguir na lista;
  • As listas que não seguirem estes critérios serão rejeitadas;
  • A representação mínima de cada sexo subiu para 40%.

Parece-me importante que se pense nestas questões e que estejamos atentos/as ao que vai acontecer em todas as candidaturas que surgirem. Julgo igualmente vital que as mulheres que forem desafiadas a integrar projetos políticos, aceitem se se identificarem com o programa a pôr em prática. Confiem que têm valor e pensem que a vossa presença é importante.

12 anos depois da lei da paridade (Lei nº 3/2006, de 21 de agosto) e mais de 40 depois da aprovação da Constituição da República Portuguesa, continua a ser necessário impor quotas para que os partidos incluam mulheres nas suas listas. O combate pela igualdade continua na ordem do dia. Seja por imposição legal, seja porque os partidos percebem que as mulheres são parte integrante da sociedade (constituindo mesmo a maioria da população), seja porque mulheres e homens avançam e ajudam a construir um caminho mais justo, inclusivo, plural e democrático. Temos que nos envolver, para combatermos a desigualdade. Como se costuma ouvir: A única coisa que cai do céu é chuva. O resto é luta!

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20
Ago18

Nanette: Porque todas as histórias merecem que o seu final seja ouvido


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ARTIGO DE PAULO SOARES D'ALMEIDA

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Certamente que já se depararam com a palavra "Nanette" nas vossas odisseias pela internet. Uns foram ver do que se tratava, outros continuaram com o scroll. É para estes últimos que me dirijo: Não! Não fechem os olhos a este nome, pois esse cerrar é o responsável por estas histórias serem um habitué.
 
Hannah Gadsby, a cara, corpo e alma deste especial de stand-up, é uma mulher lésbica e gorda - sim, esta informação é crucial para a história e não preconceito gratuito da minha parte - proveniente da Tasmânia, essa bela ilha australiana onde a homossexualidade foi crime até ao "remoto" ano de 1997.
 
Hannah chega à maior plataforma de streaming da actualidade com um intuito, no mínimo surpreendente: este especial é o seu adeus à comédia. E porquê? Por estar farta de apenas ter conseguido ser ouvida pelo seu humor auto-depreciativo, subgénero, esse, que é tão válido como qualquer outro, sendo, para muitos, uma catarse onde conseguem aceitar as suas características mais risíveis (para os outros, obviamente). Neste caso foi auto-destrutivo. 
Entre gargalhadas e lágrimas, Hannah fala sobre as dificuldades de ser dona daquele corpo e da sua orientação sexual e de como é viver a odiar tudo o que se é.
 
Para muitos, não se trata de um stand-up porque a piada não é a principal meta. Para outros, significa a representação de todo o sofrimento que foi silenciado pelo seu meio.
Para mim, pode ser o que quiserem, desde que dêem uma oportunidade ao espectáculo e, no fim, se sentem um bocado, reflictam sobre o que aconteceu e vejam se são parte do problema ou da solução.
 
Tal como Nanette, este texto não vai terminar com uma punchline. Lidem com a tensão.
 
 

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09
Ago18

Passar das Palavras aos Actos


umarmadeira

ARTIGO DE ASSUNÇÃO BACANHIM

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Continuamos a assistir diariamente a várias tentativas, no País e na Região, da vulgarização e aceitação de expressões de violência contra as mulheres, no trabalho e na vida.

As mulheres continuam a ser a maioria dos/as desempregados/as, sendo a precariedade uma constante, sobretudo entre as mais jovens e pratica-se uma pobreza salarial, dado que cada vez mais se empobrece a trabalhar e são as mulheres que auferem maioritariamente o salário mínimo e, mais tarde, vão auferir de baixas pensões de reforma.

Como se não bastasse, continuam as discriminações salariais, a desvalorização das actividades profissionais e das qualificações das mulheres, existe pressão, intimidação e diversas formas de assédio no trabalho.

Temos, até, acórdãos impregnados de preconceitos e estereótipos que tendem a reduzir a mulher a um papel subalterno e a desvalorização do drama da violência doméstica.

O combate à violência contra as mulheres passa também por promover a sua emancipação e igualdade no trabalho e na vida.

Se a independência económica das mulheres é a sua melhor protecção contra as várias formas de injustiças, lutar pela valorização do trabalho de mulheres e homens, significa exigir a quem de direito medidas e acções políticas concretas de combate às causas e origens da violência.

 Temos de agir todos os dias, quer seja no trabalho, na sociedade ou na família, para que a eliminação de todas as formas de violência contra as mulheres seja uma realidade nas nossas vidas.

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