O Voto: cartão dourado da democracia
umarmadeira
ARTIGO DE LUÍSA PAIXÃO
Pela segunda vez desde o início da pandemia os portugueses e as portuguesas são chamados a exercer o seu dever de votar. Depois das Eleições Regionais dos Açores, agora, teremos uma eleição a nível nacional, com a maior parte da população em confinamento geral ou parcial.
Esta situação é, sem dúvida, mais um teste à democracia no nosso país, que, nos últimos tempos, tem sido como nunca, desde a Revolução de Abril, desafiada nos seus princípios e valores fundamentais, sendo, por isso, tão importante preservá-los, sobretudo aquele que está na base de qualquer regime democrático, o direito ao voto.
Vemos que, há uma demissão cada vez maior de participação cívica e democrática, por parte da população, nas decisões que a todos dizem respeito, entregando-as cegamente nas mãos das instituições governativas e ignorando totalmente as suas responsabilidades de intervir de forma comprometida, enquanto cidadãs e cidadãos de um mundo onde, urgentemente, temos todos de assumir as nossas responsabilidades cívicas, sob pena de, se não o fizermos, deixarmos escapar a réstia de humanidade que ainda existe e sem a qual não conseguiremos ultrapassar este momento tão difícil que estamos a enfrentar.
Façamos um exercício mental a tentar imaginar como seria sobreviver a esta pandemia no tempo do Estado Novo, regime que, atualmente, exerce um enorme fascínio em algumas pessoas, as quais, obviamente, não o experimentaram ou viveram-no do lado dos opressores. Se fizermos esse exercício, com base em fontes fidedignas, chegaremos rapidamente à conclusão do desespero sem limites que estaria a sofrer a maioria da população portuguesa, pois, para além das condições de enorme pobreza geral em que viviam, não poderiam efetuar qualquer queixa ou denúncia, visto que as mesmas seriam vistas como um ataque ao regime e punidas “exemplarmente”.
Não podemos negar o quão desesperante está a ser a vida para os setores mais frágeis da sociedade, nomeadamente com o alastrar do desemprego. Esta pandemia agravou as diferenças sociais, alastrou a pobreza, aumentou a discriminação e todos os tipos de violência. Mas, como vivemos em democracia, todos essas injustiças podem ser denunciadas. Podemos obrigar o poder instalado a confrontar-se com as suas atitudes e, ainda que, na maior parte dos casos, a nossa denúncia não resolva os problemas graves que existem, está nas nossas mãos continuar a lutar e manter a liberdade para continuar a travá-la. Todas as denúncias que hoje fazemos, toda a visibilidade que damos às injustiças que grassam na sociedade, só conseguimos fazê-las porque vivemos num sistema democrático. No entanto, para que essa democracia seja verdadeira é preciso que usemos a arma que nos dá o verdadeiro poder: o voto.
Não podemos desprezar a herança deixada por todas e todos aqueles que lutaram, com sangue, suor e lágrimas, sacrificando o seu futuro, pelos ideais democráticos. Cabe-nos a nós, não defraudar a esperança desses homens e dessas mulheres, honrando as suas conquistas.
Fazer com que toda a população, sem qualquer distinção possa exercer o direito ao voto é algo que temos de exigir ao Governo, a nós cabe-nos exercer esse direito.
A história recente já nos tem mostrado as consequências da abstenção e o que pode acontecer quando achamos que o nosso voto é algo sem importância. O preço a pagar pelo comodismo geral das nossas sociedades tem sido um vergonhoso recuo na história dos direitos humanos.
Temos de usar a nossa arma mais poderosa, já no dia 24 de janeiro, votando para a Presidência da República.